Não assisti a quase nenhum filme da última edição do festival de cinema, mas escrevo sobre uma relação antiga que tenho com uma das principais salas que integram a tradicional maratona de filmes que acontece em setembro/outubro no Rio de Janeiro.
Como cinema também é nostalgia. Resolvi falar um pouco do Estação Botafogo, contando a história de Ximenes, que já foi balconista do bar que ficava na antiga galeria do cinema (alguém se lembra?) e hoje é um dos principais operadores cinematográficos do Estação.
Quem é o Ximenes?!
Sabe aquelas pizzas maravilhosas, quentinhas, recém-saídas do forno, macias e com a mozarela derretida borbulhando, uma tentação para o pessoal que saía da sessão do Estação Botafogo, lá pela década de 1980? Era ele o autor. Ela devia ser muito gostosa mesmo pois está na memória de quem provou, e na imaginação de quem só ouviu contar.
O pessoal vinha atraído pelo aroma dessa maldosa delícia e ía ficando no bar tomando cerveja e conversando sobre o filme, isso até a galeria fechar. Era o charme do antigo "Estação". No tempo que quem freqüentava esse cinema eram "uns punks e uns sujeitos esquisitos", como definiu o Ximenes.
Hoje no lugar do bar tem uma cafeteria, o público é mais elitista, ou cult, e o Ximenes é o operador cinematográfico da sala 3. O Ximenes estava lá antes do Estação e acompanhou toda sua evolução.
Ele começou a trabalhar no bar em 1982 e o Estação Botafogo surgiu por volta de 1985. O bar foi vendido para o Grupo Estação em 1994, mas o Ximenes já havia saído 2 anos antes. Trabalhou em outro bar em Botafogo por algum tempo mas quando vieram lhe perguntar se queria voltar a trabalhar na galeria do cinema, cujas lojas já eram todas do Grupo, não pensou duas vezes e voltou - "afinal eu conhecia todo mundo ali, trabalhei lá por 10 anos".
O Ximenes ajudou a manter limpas as salas dos "Estações", foi porteiro e agora está lá por trás da máquina projetando as cenas que emocionam e divertem as pessoas. Orgulhoso mostra a carteira do sindicato dos operadores cinematográficos.
O Estação Botafogo, como ele diz, é sua segunda casa e parece, pelo bom relacionamento que tem com todos os seus colegas, a sua segunda família também. Ele até ficou chateado porque durante o Festival teve que sair do Estação para ir trabalhar no Espaço Unibanco. Ora, Ximenes, era só atravessar a rua, andar alguns metros e pronto: de volta à sua "casa".
Ximenes que se divertia com Os Trapalhões e os filmes de luta chinês (Kung Fu), hoje, cuidando com carinho dos rolos, é espectador de Quase Nada, Lavoura Arcaica, Ondas de Amor, Banquete de Casamento - entre os melhores filmes que ele consegue lembrar, afinal nesses 4 anos em que opera o projetor ele já assistiu dezenas de filmes. Nessa edição do Festival, pelo seu julgamento os destaques foram: A Ilha de Grazzia, Falar de Amor e um africano que não lembra o nome.
É isso aí, Ximenes!! Da cozinha aos rolos, sua vida conta também a história do Estação, que vem protagonizando as quatorze seqüências do Festival, desde quando começou como uma mostra, a Mostra Banco Nacional de Cinema. Por isso, você também integra o nosso elenco.
Pois é, como podem perceber o entubado blog resoveu dar o da graça. E por ironia do destino este texto é uma adaptação de um texto escrito por Simone, minha companheira, nos tempos em que comandávamos um "espaço cultural" em site mantido dentro da COPPE/UFRJ. Bons tempos aqueles.
O título, como podem perceber, nada tem a ver com a matéria principal. Somente faz referência ao meu grande amigo e incentivador,
Toinho, que por diversas vezes me ameaçou de morte por não voltar a escrever e carinhosamente apelidou o blog com o título que encabeço ele hoje. Agradeço também a meu irmãozinho
Felipe por ainda não ter tirado o link de seu grande blog que, diferente do meu, continua mais do que nunca ativo.