domingo, 23 de novembro de 2008

Curta Cinema-nov08

Fomos assistir a uma sessão do festival Curta Cinema no Cine Odeon, foram ao todo 6 filmes, que deveriam ser avaliados pelo espectador em conceitos entre péssimo, ruim, bom, muito bom e ótimo. Quero comentar sobre um deles: “Coelhinho de Chocolate”, canadense.


Durante aproximadamente 5 minutos, ao som de um la-ra-la-la alegrinho e ingênuo, mostrou-se quadros de diferentes efeitos sobre um coelhinho de carinha feliz feito de chocolate: um ferro de passar quente; uma lâmpada; um secador de cabelo.


Aquele chocolate derretendo em ondas me dava água na boca, até que me dei conta de que aquilo era uma analogia ao aquecimento global. No caso do secador de cabelo, uns rombos se abriam enquanto o vento quente desintegrava o bichinho – imagem forte.


Quando o filme acabou comecei a pensar: porque um coelhinho? Porque um coelhinho de chocolate?
Felpudo e macio, o coelho nos passa uma idéia de docilidade; um bichinho que temos vontade de pegar no colo e acariciar. Talvez também por causa da sua fertilidade, poderíamos associar à expansão do domínio do homem no mundo. E, o chocolate? Seria a idéia do desejo, do prazer, da compulsão que caracteriza nossa sociedade?


Alô pessoal do festival: quero mudar meu voto, este curta não é muito bom como eu marquei; é excelente! Em menos de 5 minutos e de um jeito bem simples me levou a questão tão séria. Cinema é isso!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Cacareco carioca

Não assisti a quase nenhum filme da última edição do festival de cinema, mas escrevo sobre uma relação antiga que tenho com uma das principais salas que integram a tradicional maratona de filmes que acontece em setembro/outubro no Rio de Janeiro.
Como cinema também é nostalgia. Resolvi falar um pouco do Estação Botafogo, contando a história de Ximenes, que já foi balconista do bar que ficava na antiga galeria do cinema (alguém se lembra?) e hoje é um dos principais operadores cinematográficos do Estação.

Quem é o Ximenes?!



Sabe aquelas pizzas maravilhosas, quentinhas, recém-saídas do forno, macias e com a mozarela derretida borbulhando, uma tentação para o pessoal que saía da sessão do Estação Botafogo, lá pela década de 1980? Era ele o autor. Ela devia ser muito gostosa mesmo pois está na memória de quem provou, e na imaginação de quem só ouviu contar.
O pessoal vinha atraído pelo aroma dessa maldosa delícia e ía ficando no bar tomando cerveja e conversando sobre o filme, isso até a galeria fechar. Era o charme do antigo "Estação". No tempo que quem freqüentava esse cinema eram "uns punks e uns sujeitos esquisitos", como definiu o Ximenes.
Hoje no lugar do bar tem uma cafeteria, o público é mais elitista, ou cult, e o Ximenes é o operador cinematográfico da sala 3. O Ximenes estava lá antes do Estação e acompanhou toda sua evolução.
Ele começou a trabalhar no bar em 1982 e o Estação Botafogo surgiu por volta de 1985. O bar foi vendido para o Grupo Estação em 1994, mas o Ximenes já havia saído 2 anos antes. Trabalhou em outro bar em Botafogo por algum tempo mas quando vieram lhe perguntar se queria voltar a trabalhar na galeria do cinema, cujas lojas já eram todas do Grupo, não pensou duas vezes e voltou - "afinal eu conhecia todo mundo ali, trabalhei lá por 10 anos".
O Ximenes ajudou a manter limpas as salas dos "Estações", foi porteiro e agora está lá por trás da máquina projetando as cenas que emocionam e divertem as pessoas. Orgulhoso mostra a carteira do sindicato dos operadores cinematográficos.
O Estação Botafogo, como ele diz, é sua segunda casa e parece, pelo bom relacionamento que tem com todos os seus colegas, a sua segunda família também. Ele até ficou chateado porque durante o Festival teve que sair do Estação para ir trabalhar no Espaço Unibanco. Ora, Ximenes, era só atravessar a rua, andar alguns metros e pronto: de volta à sua "casa".
Ximenes que se divertia com Os Trapalhões e os filmes de luta chinês (Kung Fu), hoje, cuidando com carinho dos rolos, é espectador de Quase Nada, Lavoura Arcaica, Ondas de Amor, Banquete de Casamento - entre os melhores filmes que ele consegue lembrar, afinal nesses 4 anos em que opera o projetor ele já assistiu dezenas de filmes. Nessa edição do Festival, pelo seu julgamento os destaques foram: A Ilha de Grazzia, Falar de Amor e um africano que não lembra o nome.
É isso aí, Ximenes!! Da cozinha aos rolos, sua vida conta também a história do Estação, que vem protagonizando as quatorze seqüências do Festival, desde quando começou como uma mostra, a Mostra Banco Nacional de Cinema. Por isso, você também integra o nosso elenco.

Pois é, como podem perceber o entubado blog resoveu dar o da graça. E por ironia do destino este texto é uma adaptação de um texto escrito por Simone, minha companheira, nos tempos em que comandávamos um "espaço cultural" em site mantido dentro da COPPE/UFRJ. Bons tempos aqueles.

O título, como podem perceber, nada tem a ver com a matéria principal. Somente faz referência ao meu grande amigo e incentivador, Toinho, que por diversas vezes me ameaçou de morte por não voltar a escrever e carinhosamente apelidou o blog com o título que encabeço ele hoje. Agradeço também a meu irmãozinho Felipe por ainda não ter tirado o link de seu grande blog que, diferente do meu, continua mais do que nunca ativo.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Tijuca e arredores

É com grande alegria que acesso o Boteco do Edu, blog de Eduardo Goldenberg, e vejo a saga sobre a Tijuca, escrita em várias partes e que aqui gostaria de comentar.
Em tempos de tanta violência em que vivemos, é revoltante escutar que a Tijuca é muito perigosa e violenta. Como salientou Edu, a violência está em todos os lugares e a todo instante escutamos notícias sobre isto em toda parte. A mais recente, por exemplo, foi sobre o seqüestro-relâmpago ocorrido em Botafogo, ocasionando no ferimento de uma pessoa por bala perdida e que só teve fim em Copacabana, bairro em que hoje me encontro.
Eu, como tijucano de nascença, nascido e criado em um de seus arredores (o Rio Comprido ou “Long River” para os mais íntimos), me sinto muito mais tranqüilo na Tijuca do que em Copacabana.
Atualmente trabalhando no Rio Comprido, estou como um “pinto no lixo” por estar de alguma forma de volta às origens. Parafraseando um verso de uma música do mais ilustre compositor tijucano, Aldir Blanc, “eu vim (de perto) da Maia Lacerda e esta merda faz parte de mim”.
Vale ressaltar também a interessante série de fotos antigas da Tijuca que o Felipe colocou em seu blog.

Andei bastante ausente aqui do espaço por diversos motivos. Dentre eles, por conta do trabalho que me fez realizar uma viagem ao Acre. Sim, meus amigos, o Acre existe e tem uma história fascinante. Voltei profundamente “transtornado” com a realidade daquele lugar. É antropologia pura e na veia! Mas isso será assunto para um outro momento. Juro que um dia conseguirei digerir a experiência vivida para contá-la aqui. Estou de volta, pois como diz o sub-literato Antônio Castro (o popular Toinho): “blog abandonado é uma merda”.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O medo do goleiro diante do pênalti

Futebol e literatura são dois temas que sempre se combinaram. Há casos como a paixão do escritor Zé Lins do Rego pelo Flamengo e o amor de João Cabral pelo América de Natal. Para falar de contemporâneos nossos, cito a paixão colorada do gaúcho Veríssimo e as crônicas esportivas do santista Zé Roberto Torero. Isso sem falar nos famosos "irmãos karamazov" do futebol - o cronista tricolor Nelson Rodrigues e o jornalista rubro-negro Mário Filho que travaram vários embates memoráveis quando o assunto era futebol tal qual os diversos Fla-Flus que já aconteceram no Maraca.
Um caso de nível internacional que gostaria de registrar é a paixão de Albert Camus pelo esporte bretão. Pois este só não seguiu carreira no futebol como goleiro por causa de uma tuberculose. Diziam até que tinha um bom futuro como goleiro. Essa história mereceu até uma homenagem do cineasta alemão Win Wenders.
Da obra de Camus, li pouca coisa. Mas o que me impressionou de fato foi "O Estrangeiro".
Ele buscou nessa novela antecipar as idéias do mito de Sísifo (ensaio que publicou posteriormente a esse), expondo sua visão filosófica do absurdo, nascida da contradição entre o homem e sua situação irracional no mundo, da sua nostalgia de paz e da terrível realidade do sofrimento cotidiano. O conhecimento lúcido de sua condição faz com que o homem seja profundamente livre se desligando das regras comuns e se decida a aprender a viver sem apelo.
Para o escritor argelino, a aventura humana é absurda não apenas porque o homem se percebe despojado de uma razão onipotente, mas também porque o homem é mortal. Ele recusa aquilo que chama o absurdo de uma morte possível.
Camus permanece nas fronteiras da razão, fiel à sua agonia, sem querer ultrapassá-la. Transcender a razão significa trair o clima do absurdo ao qual pretende manter-se, já que esse clima constitui o básico da aventura humana, fora do qual tudo é ilusão ou busca de consolo.
Toda a trama da história gira em torno da vida rotineira e medíocre do personagem, violentamente transformada quando ele assassina, sem razão aparente, um árabe. O herói criado por Camus é confuso, perplexo, inconsciente, incapaz de pensar claramente.
A preocupação do autor é a descrição de experiência absurda. A história descreve o ambiente absurdo e como o homem locomove-se dentro dele. Não há uma tentativa de racionalização do absurdo. O sucesso da obra está na objetividade com que consegue transferir para o leitor a vivência absurda. O absurdo surge para o leitor não como conseqüência da existência criada por Camus, mas sim porque a própria vida é absurda.

domingo, 13 de abril de 2008

Divina dama

Há exatos 87 anos nascia a grande dama do samba carioca, Dona Ivone Lara. Personalidade de grande destaque no samba, foi a primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola de samba, a GRES Império Serrano do bairro de Madureira (RJ). Cantora e compositora de sambas antológicos, teve um início de carreira dos mais promissores. Ao lado de uma das maiores figuras da Império, o sambista Silas de Oliveira (que merecerá com certeza algum dia desses uma homenagem por aqui e dispensa maiores comentários), compôs um dos melhores sambas-enredo de todos os tempos, juntamente com Bacalhau: "Os Cinco bailes da história do Rio" (1965).
Suas composições, ao mesmo tempo simples e de uma sensibilidade tamanha, já foram gravadas por diversas personalidades como "Sonho meu", "Acreditar" e "Sereia Guiomar", todos esses sambas compostos com Délcio Carvalho, um de seus parceiros mais constantes. Algumas de suas obras têm familiaridade com o jongo - estilo de dança de origem negra e que tem na Serrinha de Madureira uma das poucas comunidades negras que ainda preserva essa cultura. "Axé de Ianga (Pai Maior)" e "Preá comeu" são exemplos claros da influência jongueira.
Assim como vários sambistas de sua época, teve um reconhecimento tardio tendo lançado poucos discos até hoje (são sete no total). Felizmente conseguiu ainda em vida ser reverenciada pelos apreciadores da boa música.
Sei que é muito difícil ser tão sucinto ao falar de uma pessoa tão grandiosa e querida como a Dona Ivone Lara, mas a paixão e a emoção me impedem de continuar com o texto. Prefiro cantá-la. Gostaria, então, de encerrar com a antológica letra do samba-enredo composto para Império Serrano, em 1965. Quem souber o ritmo, cante comigo.

Os Cinco Bailes da História do Rio
(Silas de Oliveira/Ivone Lara/Bacalhau)

Carnaval
Doce ilusão
Dê-me um pouco de magia
De perfume e fantasia
E também de sedução
Quero sentir nas asas do infinito
Minha imaginação
Eu e meu amigo Orfeu
Sedentos de orgia e desvario
Cantaremos em sonho
Cinco bailes na história do Rio
Quando a cidade completava vinte anos de existência
Nosso povo dançou
Em seguida era promovida a capital
A corte festejou
Iluminado estava o salão

Na noite da coroação
Ali
No esplendor da alegria
A burguesia
Fez sua aclamação
Vibrando de emoção
Que luxo, a riqueza
Imperou com imponência
A beleza fez presença
Condecorando a independência
Ao erguer a minha taça
Com euforia
Brindei aquela linda valsa
Já no amanhecer do dia
A suntuosidade me acenava
E alegremente sorria
Algo acontecia
Era o fim da monarquia


Parabéns, Dona Ivone. Muitos, mas muitos anos de vida para senhora.
Abenção, vó!

sexta-feira, 28 de março de 2008

O Orson Welles da pequena área

É com grande pesar que escrevo essas linhas hoje. Figura polêmica do futebol brasileiro - há quem ame e há quem odeie -, Romário anuncia a sua despedida das quatro linhas sem qualquer alarde. Segundo disse, quis sair da mesma forma que entrou no futebol: sem ser notado.
Eu sou da turma dos amaram o estilo de jogar de Romário, o "gênio da pequena área" (como perfeitamente definiu outro grande lendário jogador de futebol, o holandês Johan Cruijff - o maestro da seleção holandesa da Copa de 1974, que ficou popularmente conhecida como "Laranja Mecânica" pelo seu estilo solto e bonito de jogar).
Além de ter tido grandes momentos com a camisa rubro-negra (minha grande paixão), também devo a ele ter presenciado o primeiro título mundial conquistado pela nossa seleção de futebol. Não, amigos, não estou fazendo nenhuma injustiça com o resto do time, pois sei muito bem que ele não jogou sozinho. Mas não há como negar que ele praticamente decidiu pelo menos três partidas naquela Copa de 1994.
Falando nele, gostaria de lembrar uma história que vivi nos tempos em que ia ao Maracanã todos os domingos. Meados da década de 1990, o Flamengo fazia seu primeiro jogo pelo Campeonato Brasileiro contra o Bragantino (SP). E como era de se esperar em qualquer início de campeonato, o público presente era bem fraco. O jogo foi bem morno, mas o que importa? Estávamos ali eu e o meu companheiro de Maraca naquela época, Edu Goldenberg, muito mais pelo baixinho do que pelo jogo em si. E realmente ele não nos decepcionou, fez uma partida impecável. Não errou um passe sequer, vindo várias vezes ao meio-de-campo buscar jogo (raras eram as vezes em que a bola chegava ao ataque). O jogo terminou zero a zero. Assim que o juiz apitou o final, o Edu virou para mim e disse: "Ele (Romário) é foda. Não errou um passe."
Na segunda de manhã, abro o Jornal do Brasil (no tempo em que ainda era um jornal de respeito e não uma espécie de "45 minutos" fazendo concorrência com o "Meia Hora") e leio a crônica do grande mestre Armando Nogueira que tinha o seguinte título: "Orson Welles".
Falava exatamente do jogo Flamengo x Bragantino e enaltecia a performance do Baixinho, que fez de tudo em campo (só faltou fazer chover), para um mísero número de espectadores. E, por fim, acabou comparando o fato ocorrido com a estréia de uma peça de teatro de Orson Welles na década de 1950. A peça demorava a se iniciar, pois quase não havia público. Percebendo então que já seria uma deselegância com os poucos presentes, resolveu iniciar se apresentando ao pequeno público: "Boa noite, eu sou Orson Welles, ator, roteirista, escritor, dramaturgo, diretor de cinema e de teatro. Pena que eu seja tanto e vocês tão pouco."
Valeu, Baixinho! Que venham outros a encantar com tanto brilho as tardes de domingo no Maracanã.

terça-feira, 25 de março de 2008

Aos amigos queridos

Como é difícil conseguir manter a regularidade e freqüência mesmo que de forma simples. Nossa, não pensei que criar um blog fosse tão complicado. Ou, melhor dizendo, mantê-lo. Como a rotina muda de uma hora pra outra. Pensei que fosse somente entrar e fazer um desabafo, mas agora me vi com uma "certa responsabilidade" em tocar o barco pra frente, pois senão a coisa desanda e perde-se a credibilidade.
Para os que têm filhos, como eu, é mais complicado ainda. Nesse exato momento minha filha está aqui do meu lado me puxando pra brincar e eu aqui relutando para escrever essas humildes e sacrificantes linhas.
Como já disse uma vez, espero dessa forma poder encontrar os amigos de vez em quando. Nem que seja de forma virtual. Pronto, taí um motivo para não parar de escrever. Os amigos!!! Mas será que eles terão a paciência e tempo para me ouvir. Acredito que não.
A partir de hoje, resolvi colocar alguns links interessantes de amigos que, assim como eu, vão tentando encontrar por aqui uma espécie de subterfúgio, válvula de escape. Aliás, links interessantes também terão espaço por aqui.
Olha só, tá vendo, já estou eu enchendo um pouco de lingüiça para fazer propaganda dos amigos. Mas acho que a causa é válida.
Vou tentar dividir este espaço com minha companheira, Simone. A idéia inicial era ela dividir este espaço comigo. Mas acho que vou acabar tocando sozinho. Bom, "ainda resta um pouco de esperança".

Vale a pena ler a excelente entrevista dada na Caros Amigos pelo economista e bandolinista nas horas vagas Luis Nassif - "Enfrentando a ferocidade da (revista) Veja". Para quem quiser, também indico o seu blog para ler detalhes de todo o "Dossiê Veja".