domingo, 13 de abril de 2008

Divina dama

Há exatos 87 anos nascia a grande dama do samba carioca, Dona Ivone Lara. Personalidade de grande destaque no samba, foi a primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola de samba, a GRES Império Serrano do bairro de Madureira (RJ). Cantora e compositora de sambas antológicos, teve um início de carreira dos mais promissores. Ao lado de uma das maiores figuras da Império, o sambista Silas de Oliveira (que merecerá com certeza algum dia desses uma homenagem por aqui e dispensa maiores comentários), compôs um dos melhores sambas-enredo de todos os tempos, juntamente com Bacalhau: "Os Cinco bailes da história do Rio" (1965).
Suas composições, ao mesmo tempo simples e de uma sensibilidade tamanha, já foram gravadas por diversas personalidades como "Sonho meu", "Acreditar" e "Sereia Guiomar", todos esses sambas compostos com Délcio Carvalho, um de seus parceiros mais constantes. Algumas de suas obras têm familiaridade com o jongo - estilo de dança de origem negra e que tem na Serrinha de Madureira uma das poucas comunidades negras que ainda preserva essa cultura. "Axé de Ianga (Pai Maior)" e "Preá comeu" são exemplos claros da influência jongueira.
Assim como vários sambistas de sua época, teve um reconhecimento tardio tendo lançado poucos discos até hoje (são sete no total). Felizmente conseguiu ainda em vida ser reverenciada pelos apreciadores da boa música.
Sei que é muito difícil ser tão sucinto ao falar de uma pessoa tão grandiosa e querida como a Dona Ivone Lara, mas a paixão e a emoção me impedem de continuar com o texto. Prefiro cantá-la. Gostaria, então, de encerrar com a antológica letra do samba-enredo composto para Império Serrano, em 1965. Quem souber o ritmo, cante comigo.

Os Cinco Bailes da História do Rio
(Silas de Oliveira/Ivone Lara/Bacalhau)

Carnaval
Doce ilusão
Dê-me um pouco de magia
De perfume e fantasia
E também de sedução
Quero sentir nas asas do infinito
Minha imaginação
Eu e meu amigo Orfeu
Sedentos de orgia e desvario
Cantaremos em sonho
Cinco bailes na história do Rio
Quando a cidade completava vinte anos de existência
Nosso povo dançou
Em seguida era promovida a capital
A corte festejou
Iluminado estava o salão

Na noite da coroação
Ali
No esplendor da alegria
A burguesia
Fez sua aclamação
Vibrando de emoção
Que luxo, a riqueza
Imperou com imponência
A beleza fez presença
Condecorando a independência
Ao erguer a minha taça
Com euforia
Brindei aquela linda valsa
Já no amanhecer do dia
A suntuosidade me acenava
E alegremente sorria
Algo acontecia
Era o fim da monarquia


Parabéns, Dona Ivone. Muitos, mas muitos anos de vida para senhora.
Abenção, vó!

7 comentários:

Unknown disse...

Yeah! Você mantem o legado de nossas tradições. Informa, detalha, reverencia e sacode nossos sentimentos, com as paisagens-personagens "subterrâneas" de nossa cidade e cultura. No túnel de sua memória, fortalecemos nosso presente,

Um beijo carinhoso,
Pati

Simoninha disse...

Adoro Dona Ivone! Senhora de melodias irresistíveis, eu não resisto a acreditar, eu não, recomeçar, jamais; a vida foi em frente e você simplesmente não viu que ficou pra trás. (Acreditar-D.Ivone Lara). Entre outras.
Adoro música! Tomo até como uma referência filosófica; por que não? Por exemplo, os versos de Algúem me Avisou: Eu vim de lá pequenininho; alguém me avisou para pisar nesse chão devagarinho ... Foram me chamar; eu estou aqui, o que que há? Faço a seguinte interpretação. Não podemos fugir da vida, ela sempre nos pergunta a que viemos e respondemos com ações, opiniões, atitudes, com nossa história. Trazemos em nós o passado, o que ja vivemos e a herança dos que vieram antes: viemos de . Chegamos pequenos e vamos crescendo no dia-a-dia da vida. Nas situações devemos chegar devagar, humildes, ouvindo, vendo, sentindo tudo o que nos cerca. Apesar de todo conhecimento que podemos ter: não somos donos da verdade.
E nesse mundo de cercas, máscaras blindagens, defesas etc que vivemos, ouço desafiador e provocativo o verso da música
Nasci Para Sonhar e Cantar ( Dona Ivone Lara-Délcio Carvalho): o que trago dentro de mim, preciso revelar.
Simoninha

Isabella Zappa disse...

Nossa, to aprendendo muito com esses seus posts!! Temos que combinar um dia de ir a uma roda de samba!!
Adoro "Sonho meu" e "Acreditar"
"acreditar, eu não, recomeçar, jamais..."

Toinho Castro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Toinho Castro disse...

esse é o meu amigo zé reverenciando o samba na pessoa de sua mais ilustre dama.

difícil de acreditar, heim zé?!, que eu, discípulo doutrinado do rock'n'rol tenha espaço na minha alma pequena para o samba. mas tenho.

minha modesta coleção inlcue alguns belos discos que quialquer dia escvutaremos com uma cerveja bem gelada.

grande abraço. quiera eu ter esse talento de escrever coisas assim com nexo, sentido e consistência!! enquanto isso sigo nos meus registros tresloucados sobre discos voadores e seres de outras esferas.

Toinho Castro disse...

então é na casa da ivone lara que tú almoça!!!!!!!

Toinho Castro disse...

tá na hora de post novo...porque não escreve sobre o disco de clementina de jesus que acabo de te enviar?!
amém!